
Desde 2015 as instituições brasileiras se encontram em estado de completa degradação e autodestruição; estado que historicamente sempre caracterizou o surgimento de governos autoritários. Ontem assistimos aos partidos do judiciário e do “exército” entrarem em choque. A esquerda deverá estar atenta e vigilante para construir uma agenda independente dos grupos políticos que traíram o pacto social de 1988. Assim, o campo popular deve ter identidade e estratégia próprias, mesmo que em algumas batalhas próximas lute ao lado dos algozes do passado recente.
Ninguém faz a história senão por meio das condições e possibilidades oriundas do passado. O Brasil é um país carente de sucessos revolucionários, como prova a história da República marcada por golpes e contragolpes sucessivos, que, sem exceção, sempre marginalizou a esmagadora maioria da população brasileira. Mesmo o processo de reabertura política representou uma derrota das forças progressistas: os militares que mataram e torturaram milhares de militantes por 21 anos tutelaram todo o processo de “redemocratização” e hoje estão novamente no poder.
Há intérpretes do Brasil que consideram que nossas raízes ibéricas nos legaram uma profunda tradição autoritária e antidemocrática. Porém, os camaradas portugueses também foram capazes de fazer uma revolução com cravos e fuzis em 25 de abril de 1974. Há exatos 46 anos, caía a ditadura fascista imposta por Salazar em 1933, uma das maiores da história. Precisamos ter sempre em mente que a maior força da esquerda é a sua dimensão popular, que representa a verdadeira democracia. Ela deverá determinar a dimensão da resistência. Ela deverá estar preparada para ocupar as ruas quando a pandemia arrefecer, pois estaremos diante de uma crise social sem precedentes. Mas também poderá ser o momento para confraternizarmos e chorarmos com amigos, amigas, parentes, ex-amores, com companheiros e companheiras de luta. Os cravos poderão, quem sabe, substituir os fuzis mais uma vez.